O Vice-presidente Francisco de Assis e Silva
Os partidos políticos brasileiros, em sua maioria, não passam de ficções políticas, pois não representam filosofias, nem ideologias; muitos nem dispõem de uma base eleitoral real, muitas vezes são fruto do caciquismo, do oportunismo, de ambições pessoais desmedidas e do aproveitamento indevido e abusivo de recursos públicos, por meio dos fundos eleitorais.
Vota-se muito mais na pessoa do candidato do que em partidos, princípios ou ideologias.
O eleitor vota no Presidente da República e, geralmente, nem sabe quem é o candidato a Vice-Presidente.
Isso contribui para que, ao longo de nossa História, os Vice-Presidentes da República representem figuras atípicas: alguns desconhecidos, alguns muitos discretos, outros muito afoitos, outros decorativos, outros muito ambiciosos, alguns acusados de golpismo, conspiração e tudo o mais que se possa imaginar da natureza humana.
Em tempos recentes, o Brasil foi governado por vices, durante muitos anos: Itamar Franco, José Sarney, Michel Temer. Fenômeno equivalente tem ocorrido no Senado Federal, com os suplentes de Senador ocupando em certos períodos quase a maioria das cadeiras.
As atuais gerações, certamente, desconhecem que logo após a Proclamação da República, no Governo do Presidente Campo Sales, no período de 15 de novembro de 1898 a 15 de novembro de 1902, tivemos um Vice-Presidente da República chamado Francisco de Assis e Silva.
Quem era Francisco de Assis e Silva ?
Francisco de Assis e Silva era um político de Pernambuco, que se destacou tanto no Império como na República, por seus conhecimentos, elevado padrão ético, postura democrática, fina educação e sólida formação jurídica e econômica.
Nos tempos atuais de descrença na política, nos políticos e nos Poderes da República, difícilmente encontraríamos exemplos de homem público com as qualidades morais e intelectuais de Francisco de Assis e Silva.
Sua figura torna-se ainda mais extraordinária se considerarmos que na época em que ele exerceu suas atividades políticas (final do Século 19 e início do Século XX), o Brasil era um país em que predominava o analfabetismo, e que enfrentava uma quantidade enorme de problemas: transição do Império para a República, economia em crise, epidemias de varíola, cólera, febre amarela e revoltas populares.
Francisco de Assis e Silva nasceu no Recife, a 4 de outubro de 1857, filho de D. Joana Francisca da Rosa e do comerciante português Albino José da Silva. Faleceu no Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal em 1 de julho de 1929, aos 71 anos de idade.
Em 1873, com apenas 16 anos incompletos, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, onde fez um curso brilhante e começou a demonstrar sua grande capacidade de liderança. Foi um dos fundadores dos jornais universitários Congresso Literário e Luta. Concluiu o Curso de Direito em 1877 e dois anos após sua graduação, obteve o grau de Doutor, com a dissertação Onde Reside a Soberania Nacional.
Foi eleito deputado provincial em 1882 e deputado geral de 1886 a 1889. No Império, foi ministro da Justiça (1889), época em que recebeu o título imperial de “Conselheiro”.
Francisco de Assis e Silva destacava-se por sua educação e elegância pessoal, pelo reconhecimento geral como um homem público de conduta ilibada, doutos conhecimentos jurídicos e econômicos, lealdade inatacável, firmeza de convicções, energia e determinação, competência e capacidade de liderança.
Aprofundou seus estudos de economia e finanças em Paris, no período de 1879 a 1881. Sua experiência na Cidade Luz, à época capital mundial da cultura, das artes e das tecnologias, certamente contribuiu para realçar sua intelectualidade, educação fina e elegância pessoal, traços peculiares de sua personalidade.
Regressou ao Brasil, em abril de 1881, filiou-se ao Partido Conservador, chefiado pelo Senador João Alfredo Correia de Oliveira, amigo de seu pai e diretor da Faculdade de Direito do Recife durante parte do seu período acadêmico.
Francisco de Assis e Silva e a Assembleia Constituinte
Na República, foi deputado à Assembleia Constituinte de 1890 e nas duas seguintes legislaturas, tendo sido presidente da Câmara dos Deputados no biênio 1894 — 1895. Foi eleito Senador por Pernambuco em 1895, renunciou ao mandato em 1898 para assumir o cargo de Vice-Presidente da República.
Pertencia a um grupo de políticos que atuaram no período de transição do Império para a República, defendendo o interesse nacional acima de interesses particulares ou partidários e contribuindo para uma transição política pacífica, diferentemente das convulsões violentas ocorridas em outras nações.
Atuava na política com grande dignidade, tanto na situação como oposição, e sua palavra era respeitada por correlegionários e adversários, pois para ele o sim era sim, e nao era nao.
Foi eleito Governador do Estado de Pernambuco nas eleições estaduais de 1911, com 21.613 votos, contra o candidato militar apoiado pelo Presidente Hermes da Fonseca, Dantas Barreto, que teria obtido 19.585 votos.
Os partidários de Dantas Barreto não se conformaram com o resultado das urnas, Recife passou por um dos momentos mais violentos e sangrentos, e Francisco de Assis e Silva foi vítima de um golpe que impôs, manu militari, o nome de Dantas Barreto.
Apesar desse duro golpe e da consequente perda de influência política após as eleições para a Presidência do Estado de Pernambuco, Francisco de Assis e Silva continuou sendo reeleito para o Senado Federal, pois o eleitorado reconhecia sua “lealdade inatacável, firmeza de convicções e a energia de vontade”, como afirmou Antônio Azeredo,
Eleito deputado provincial para o biênio 1882-1883, como representante do 10º distrito, Francisco de Assis e Silva teve o seu mandato renovado nos pleitos seguintes.
Candidato a Deputado Federal, em 1884, por indicação do Partido Conservador, perde para o liberal Ulysses Viana, no entanto, em 1885, na vigência da Lei Saraiva, consegue eleger-se pelo mesmo distrito para o período 1886-1889.
Em sua atuação parlamentar, Francisco de Assis e Silva destacava-se nos debates sobre assuntos econômicos e financeiros.
Francisco de Assis e Silva não foi apenas um intelectual que atuou no Parlamento, com vocação civilista e de respeito à Constituição. Estava sempre preocupado com os problemas do desenvolvimento nacional, regional e estadual.
Por sua iniciativa foram realizados importantes projetos de desenvolvimento da economia de Pernambuco, como a construção de estradas de ferro e melhoramentos no porto.
Sua atuação em prol do desenvolvimento da economia da Província foi reconhecido por líderes empresariais, cujas Associações homenagearam-no e distinguiram-no com títulos honorários, pelos importantes serviços prestados às classes produtoras de Pernambuco.
Suas posições políticas firmes e independentes eram o apanágio de sua atuação na política: Francisco de Assis e Silva pois era capaz de discordar dos erros de seu Partido Conservador, como o fez muitas vezes, inclusive em relação ao então Secretário e Ministro dos Negócios da Fazenda Deputado Francisco Belisário Soares de Sousa.
Francisco de Assis e Silva foi um dos poucos homens públicos que tiveram destaque tanto no Império como na República, e sem abrir mão de seus rígidos princípios éticos, morais e intelectuais.
Encerrou a primeira fase de sua vida pública na oposição, como antigo membro do pois tinha sido convidado pelo Governo, em para reorganizar o ministério abolicionista como , não obtendo sucesso.
Sua brilhante atuação parlamentar levou o governo a convidá-lo para o cargo de Secretário de Estado dos Negócios da Justiça, a partir de 4 de janeiro de 1889. Com a queda, em a junho de 1889, do chamado Gabinete Abolicionista, Francisco de Assis e Silva não pode fazer o “o que o seu talento e os seus estudos determinavam”, como observou Gonçalves Ferreira.
Francisco de Assis e Silva encerrou o primeiro ciclo de sua vida pública na adversidade, acompanhando com lealdade e dignidade seu conterrâneo e amigo o Senador e Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, sob cujo comando ingressara na política.
A queda do Império não encerrou a brilhante carreira política de Francisco de Assis e Silva da vida pública: não enterrou seus talentos nem se negou a se colocar à disposição do Brasil, na defesa dos interesses nacionais.
Retirou-se temporariamente da vida pública, em consonância com seus princípios éticos e temperamento discreto, mas aceitou candidatar-se a deputado, quando convocado a contribuir com seus conhecimentos e experiência, numa fase muito difícil para a Nação.
Defendeu o sistema parlamentarista no Congresso Constituinte de 1890/1891, como “um sistema de liberdade e o que melhor garante os direitos individuais e a fiscalização dos dinheiros públicos”.
Outras noticias sobre Francisco de Assis e Silva
Francisco de Assis e Silva: o vice-presidente que até hoje é exemplo
Dom Francisco de Assis e Silva: “desafio é descobrir a unidade na pluralidade”
Thanks for sharing. I read many of your blog posts, cool, your blog is very good.